Dias atrás, a natureza nos ofereceu espetáculos incríveis. Em alguns municípios, aqui da Serra Gaúcha, a neve descortinou uma apresentação inédita. O cenário que era frio, foi transformado por flocos esbranquiçados que caíram mansamente. Nas janelas, via-se o rosto de pessoas curiosas, turistas e admiradores de todas as idades. A noite já ia adiantada e até o sono fora esquecido. Câmaras disparavam para todos os lados incontáveis flashes, aparelhos de telefones não paravam de tocar e fazer ligações: era urgente avisar os amigos e familiares para que a cena não fosse perdida. A emoção tomara conta de todos. Até bonecos de gelo foram feitos com ternura, encanto e criatividade.
A neve consegui surpreender e, por uns instantes, as pessoas vibraram com o acontecido. As imagens serão arquivadas na bagagem das belas recordações. Outros invernos virão. Talvez a neve, um dia, se apresente novamente. O que permanece é a sonora constatação: se a natureza é capaz de provocar transformações, por que o humano não se deixa surpreender com o sol que brilha, com a chuva que cai, com o sorriso de uma criança, com a suavidade da brisa, com a flor que desabrocha, com a chegada da primavera...?
A dureza decorrente das excessivas preocupações com o material tem isentado as pessoas de expressar ternura e encanto. Em nome do materialismo, nações rompem tratados, infringem regras de soberania, espionam e se preciso for, partem para o conflito. Os dias são agitados, rostos enrugados já não sabem como sorrir. Por todos os lados há cobranças e insensibilidade. Do mais profundo do ser uma insistente melancolia parece sugerir mudança de vida. Seguidamente o coração sente saudade de algo indefinido, um misto de lamentação pela ausência de serenidade e de paz.
O inverno passou. E se a neve demorar a cair novamente?
A nossa vida é capaz de se surpreender com os pequenos detalhes do cotidiano. Para isso, é necessário abrandar esse ritmo que tem roubado a saúde das pessoas. Sentir profundamente o pulsar da vida: tarefa um pouco exigente, mas possível. Quero lembrar que isso depende unicamente de cada um. O outros até poderão ajudar, mas o cuidado e o ordenamento da interioridade é uma decisão pessoal. Sempre é tempo de surpreender-se com os espetáculos que a natureza e o amor estão, a todo instante, proporcionando aos corações dotados de sensibilidade e fé.
Abraço.