A culpa é dos pronomes


Há algum tempo venho estudando, entre outras matérias, português para concurso público. Me perdoe nobres professores da língua portuguesa. O caos que se instalou em nosso país não é culpa dos políticos, das grandes empreiteiras, lobistas e doleiros investigados pela Polícia Federal. Eles são completamente inocentes. Esses homens e essas mulheres são vítimas da Língua Portuguesa - Libertas quae será tamen, imediatamente.
Tanto a oposição, quanto a situação, o Planalto, o Congresso Nacional e suas Casas, o próprio povo, ninguém é corrupto, corruptor ou corrompido, ninguém compra votos e ninguém se vende. Não é a falta absoluta de valores, nem as consequências dos agrupamentos partidários amorfos. Não é a ausência de verdadeiros projetos políticos, nem o fisiologismo, egoísmo e outros tantos "ismos"... 
A responsabilidade total é de Portugal com quem temos tratados importantes e que nos deixou como herança a "última flor de Lácio"já dizia o eterno Bilac. A culpa do caos aqui instalado é desta gramática cheia de regras, onde uma palavra permite várias interpretações, onde se lê de uma forma e se escreve com outra e segundo Caetano Veloso, tais regras levam a "criar confusões de prosódia e uma profusão de paródias".

Quanto mais estudo, mais me convenço de que a corrupção brasileira está entranhada em nosso português: nos substantivos, nos adjetivos, nos verbos e principalmente nos pronomes. Porém, é um tanto óbvio, o DNA de nosso português vem do Latim, uma língua quase morta, salvo a presunçosa linguagem dos advogados - com a "máxima vênia, causídicos".
Enfim, vamos focar nos criminosos sequer cogitados pela Lava Jato: os Pronomes. Estes fulanos, quanto mais pessoais, mais implicados são. O pior de tudo, é que alguns se escondem no verbo, tipo filhote de canguru. Alguns tem fama de serem retos, esses não dá para confiar. O "eu" é egocêntrico, o "tu"acusativo ou íntimo demais, o "ele"passa de fininho, o "nós"é até modesto, mas nem sempre honesto, o "vós"foi crucificado e o "eles" quem é que sabe? Outro envolvido nas falcatruas é o "me". Ele é tão oblíquo que nem se importa com a redundância quando se sobrepõe ao "mim". E os possessivos? São os garantidores das propinas. "Me manda meus 30% para mim". Cadeia para eles! Eis ai uma prova irrefutável de ganância gramatical.Os demonstrativos são mais exibicionistas e menos ambiciosos, mas têm presença garantida nas sessões, principalmente quando os nobres falam de si na terceira pessoa: Esta presidenta, este senador, este deputado... é tanta "enrolation". Já os indefinidos são que nem gatos: sempre em cima do murro. Insinuam, mas não abrem o jogo, a solução é a quebra do sigilo telefônico e bancário. Os relativos... bem, esses merecem outra história à parte.
Magistrados, relaxem as prisões feitas aos homens de boa vontade. Não há como negar: a corrupção é herança dos lusitanos, que nos enfiaram a Língua Portuguesa goela a baixo. A roubalheira só se dá devido a essa facção de pronomes, vilões safados, caras-de-pau, vendidos, demagogos... Cadeia para eles.